Criptorquidia



A não descida de um ou ambos os testículos (criptorquidia)
é a anomalia genital mais comum verificada nos recém-nascidos do sexo masculino.
Ocorre em 3% dos recém-nascidos.


A criptorquidia ocorre quando o gubernáculo não consegue desenvolver ou empurrar os testículos para o escroto. Todos os dados apontam para um insucesso da actividade androgénica no gubernáculo como etiologia do distúrbio. A falta de actividade androgénica pode resultar de defeitos relacionados com o desenvolvimento em qualquer ponto do eixo hipotalâmico-pituitário-testicular fetal. Deste modo, a não estimulação hipotalâmica fetal da secreção de gonadotrofina no terceiro trimestre (síndromas de Kallman e de Prader-Willi, anencefalia), a não secreção de androgénios por parte dos testículos (disgenesia gonádica), a não conversão de testosterona em dehidrotestosterona nos tecidos-alvo (deficiência de 5alfa-redutase), ou a ausência de receptores de androgénio em funcionamento (síndromas de insensibilidade androgénica) podem levar à criptorquidia.

O que não deixa de ser interessante é o facto das mães de recém-nascidos criptorquídicos terem tido uma menarca mais tardia e menstruações mais curtas, o que sugere a participação de um hipogonadismo materno subtil ou uma tendência herdada para o mesmo no desenvolvimento da criptorquidia. A exposição in utero ao dietilestilbestrol (DES) está associada a uma maior incidência de criptorquidia, sugerindo uma vez mais que as anomalias estrogénicas maternas estão envolvidas no desenvolvimento do distúrbio.
Os testículos podem permanecer no canal inguinal (70%), no abdómen ou no retroperitoneu (25%), ou noutros locais ectópicos (5%). Os testículos que permanecem no abdómen ou no canal inguinal tornar-se-ão incapazes de desempenhar a espermatogénese normal, devido às temperaturas mais elevadas aí existentes em comparação com as do escroto. São igualmente propensos a desenvolverem cancro.

A terapia da criptorquidia pode ser medicamentosa, mediante a utilização de gonadotrofina coriónica humana (hCG) ou a administração de androgénio, ou pode ser cirúrgica (orquiopexia). Os testículos criptorquídicos cuja descida para o escroto é impossível são, geralmente, removidos, pois não podem ser observados de forma adequada no que toca ao desenvolvimento de um neoplasma.

A hérnia inguinal é uma forma rudimentar de criptorquidia, na qual ocorre a descida testicular, mas o anel inguinal não se fecha completamente. Os rapazes com hérnias inguinais diagnosticadas antes dos 15 anos correm duas vezes mais riscos de desenvolverem cancro dos testículos do que o resto da população.


Fonte: Compêndio da reprodução humana (2003). Instituto Piaget 

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