Pensamos ser mais magros e mais altos ...

Os portugueses acham-se mais magros e mais altos do que na realidade são, uma percepção errada que dificulta o combate à obesidade, um dos maiores problemas deste século, segundo um livro hoje lançado em Lisboa.

Esta é uma das conclusões da obra «Obesidade em Portugal e no Mundo», a primeira de autores portugueses sobre a dimensão global da Obesidade.

Editada pela Faculdade de Medicina de Lisboa com o apoio dos Laboratórios Abbott, a obra foi coordenada por Isabel do Carmo, directora do Serviço de Endocrinologia do Hospital de Santa Maria e docente daquela Faculdade.

Em declarações à Lusa, Isabel do Carmo explicou que este é o primeiro livro que dá uma panorâmica do que existe sobre obesidade em Portugal e no mundo, com dados referentes à idade pré-escolar, escolar, adolescência, 20 anos e idade adulta assim como faz uma recolha das consequências da obesidade.

Segundo a investigação, a tendência de cada indivíduo, que se reflecte na população em geral, é ter uma percepção subjectiva de menos peso e mais altura.

Em todas as idades as pessoas acham que têm menor Índice de Massa Corporal do que aquele que têm de facto.

«Quando se pergunta, as pessoas dizem sempre que pesam menos e medem mais», disse em declarações a Lusa a endocrinologista Isabel do Carmo, acrescentando que o livro revela esta diferença entre o índice de massa corporal subjectivo e o objectivo.

O trabalho de investigação mostra ainda que a elevada prevalência da obesidade estará intimamente relacionada com a chamada «transição nutricional», caracterizada por mudanças quantitativas e qualitativas nas escolas alimentares.

Os consumos alimentares diferem entre os sexos.

As mulheres mencionam uma maior frequência de consumo de sopas, legumes e frutos frescos assim como de lacticínios de baixo teor de gordura, alimentos que são indicados pela literatura como podendo exercer efeitos potencialmente benéficos na prevenção da sobrecarga ponderal.

Por outro lado, o livro revela que os mais jovens apresentam frequências de consumo mais elevadas de alimentos tendencialmente hipercalóricos e de baixa densidade nutricional.

A obesidade tornou-se um dos grandes problemas de saúde pública no final do século XX e um dos maiores do século XXI, com dimensões que ultrapassam muito as questões plásticas que levam, sobretudo as mulheres, à consulta da especialidade ou ao consumo de medidas avulsas de tratamento.

Portugal aparece neste livro como um país médio em matéria de incidência da obesidade, juntamente com Espanha e Grécia, mas não é por isso que a situação deixa de ser preocupante, em especial nas crianças.

«É preocupante porque, enquanto nos adultos nos situamos na média da Europa, nas crianças estamos entre os piores. Dos três aos 18 anos temos os piores números, o que quer dizer que as actuais crianças e jovens vão ser muito mais obesos do que os adultos actuais e isso é assustador», disse.

Na Suécia, por exemplo, explica Isabel do Carmo, regista-se uma regressão da obesidade infantil, fruto de um grande investimento em campanhas contra o problema.

Os países mais desenvolvidos estão melhor, os da bacia mediterrânica estão pior e há ainda uma evolução negativa da Inglaterra, Alemanha e dos países do bloco de leste que, em 20 anos, passaram para o dobro em consequência do empobrecimento da população, adiantou a especialista.

Nos adultos, Portugal tem uma prevalência de obesidade de 14,5 por cento enquanto em Itália esse valor é de nove por cento e na Rússia de 16 por cento.

In, Diário Digital / Lusa, 19Fevereiro 2009

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