Porque se diz "Ele tem tomates"?


Porque se diz que uma pessoa corajosa "Tem tomates"?

A relação entre coragem e testículos não é evidente, a priori. A maioria dos homens ja deve ter reparado que, em situação de fraqueza devido ao frio ou ao medo, os testículos encolhem e se recolhem no corpo.

Muito provavelmente a descoberta da castração ocorreu por acaso, na sequência de um acidente que teria castrado a vitima. É verdade que a castração é conhecida desde a Antiguidade. Não sei quem foi que teve a ideia de castrar um homem ou um touro. Seja como for, descobriu-se que um animal sem testículos era mais dócil, desenvolvia mais gordura e interessava-se menos pelo deboche, o que era prático, tanto para os animais de quinta como para os guardas de haréns.

Como é evidente, a endocrinologia não era conhecida. Serão necessários muitos séculos até a biologia demonstrar que os testículos produzem uma hormona masculina, a testosterona. Esta hormona actua sobre o corpo, contribuindo para produzir músculo, mas também sobre o cérebro e o pénis, por intermédio da sua acção na libido e na erecção. Estes efeitos são visíveis nos homens submetidos a castração por razões médicas: a libido diminui bruscamente devido à quebra da testosterona. Não obstante, este facto não permite deduzir a existência de uma relação simples entre a testosterona e a sexualidade.

É conhecido, por exemplo, o efeito de retroalimentação no circuito da testosterona: a testosterona aumenta a actividade sexual, mas também aumenta graças a esta última (os homens segregam mais testosterona enquanto vêem um filme pornográfico). É por isso que é difícil dizer se os engatatões vão para a cama mais vezes porque têm mais testosterona, ou se têm mais testosterona porque vão para a cama mais vezes.

Algumas investigações mostram que a testosterona induz uma certa forma de agressividade: aumentaria, por exemplo, imediatamente antes de uma competição desportiva. Mas esta associação entre a testosterona e o "ter tomates" pode levar a cometermos pelo menos 3 erros:

O primeiro consiste em fazer da coragem uma característica relacionada com a testosterona. É verdade que aumenta a libido e, talvez, em certa medida, a agressividade, mas nada tem que ver com o carácter. Um indivíduo pode ser corajoso sem ser megalómano ou maníaco do sexo, e, inversamente, o cobarde agressivo e libidinoso é uma realidade.

Mesmo que a testosterona aumentasse a coragem, o segundo erro está em transformá-la numa característica exclusivamente masculina. Com efeito, as mulheres também produzem testosterona nos seus ovários - em menor quantidade que os homens nos seus testículos, mas produzem. Na mulher, de resto, é a subida da testosterona que aumenta o desejo quando a ovulação se aproxima.

E, em terceiro lugar, o poder da testosterona deve ser relativizado. Como demonstraram algumas investigações,a testosterona, para actuar, transforma-se, em certas situações, numa hormona feminina - o estradiol.

Acabámos de apresentar boas razões para repor no seu devido lugar o velho mito que situa as virtudes masculinas nos "penduricalhos". Homens e mulheres possuem hormonas masculinas e femininas simultâneamente, e é tempo de acabar com esse mito de uma dualidade psicológica baseada nas hormonas.

O mito gerou muitos absurdos, como o de alimentar a ideia de uma "força de carácter" instalada nos testículos. Apesar da sua popularidade, a expressão "ter tomates" é machista e infundada.

Adaptado do original de "A angústia do chato antes do coito", Antonio Fischetti

2 comentários:

Anónimo disse...

Olá, Fernando!
Curiosamente, eu estava pensando justamente na coragem quando estava
vindo aqui para a clínica. Muitas pessoas confundem insensibilidade
com força de caráter, grosseria com franqueza e pouco ou nenhum
amor à vida com coragem. Tanto a mulher como o homem podem ser
corajosos, pois a coragem não é ausência de medo, mas a
convicção de que reagir é preciso, a despeito deste. A
sensibilidade é uma arma poderosa, pois através dela conhecemos
tanto o outro quanto a nós mesmos, nos dando informações sobre
qual a melhor forma de solucionarmos uma situação delicada. Além
disso, é uma dádiva lidarmos com pessoas que têm coerência entre
a forma que sentem e agem. Ainda temos muito o que rever, e é por
isso que pessoas como eu e vc não podemos parar!...
grande abraço,

Lúcia Beraldo
visite o página web da Lúcia em:
http://sexologiajf.com.br/

Dr. Fernando Mesquita disse...

Cara Lúcia,

embora me tenha enviado a msg para o meu mail, optei por colocá-la nos comentários do Blog porque, quanto a mim, é um excelente comentário e considero que seria uma pena os restantes Blogueiros não terem acesso a ela e, também é sempre agradável termos a opinião de outras pessoas e principalmente de profissionais como é a Lúcia Beraldo.

Vamos falando, forte abraço

Fernando Eduardo Mesquita
http://terapiassexuais.blogspot.com
http://sexologia.no.sapo.pt